terça-feira, 2 de março de 2010

EM CHIAPAS, PASSADOS 15 ANOS DA OFENSIVA CONTRA O ZAPATISMO, A MILITARIZAÇÃO PERSISTE.

Ao completar 15 anos da ofensiva militar do governo federal de Ernesto Zedillo contra centenas de comunidades zapatistas em Chiapas, em 9 de fevereiro de 1995, e diante do crescente número e gravidade das agressões contra esses mesmos povos, sobretudo na Selva Lacandona, coletivos e organizações aderentes à Outra Campanha em várias partes do país manifestaram que, "com sua guerra de extermínio, o mau governo não procura só acabar com o EZLN, mas sim com a vida e a dignidade dos nossos povos".

Cabe destacar que a ocupação decretada há três lustros se mantém intacta e agora, após a militarização do território nacional para combater o crime organizado, Chiapas continua sendo o estado com maior presença de efetivos castrenses.

"O que (o governo) parece ignorar é que o projeto zapatista tem chegado além de nossas fronteiras, vive em muitos lugares do mundo. Esses muitos que somos não vão se render", afirmaram os aderentes da Outra Campanha.

Por sua vez, a Rede contra a Repressão e pela Solidariedade, também da Outra Campanha, se manifestou a respeito das agressões contra as bases zapatistas em Bolón Ajaw (município autônomo Comandanta Ramona) e Laguna San Pedro, esses últimos desalojados dos Montes Azuis.

"As ações de intimidação e desalojamento efetuadas pelo mau governo, utilizando a Organização para a Defesa dos Direitos Indígenas e Camponeses (OPDDIC), ou de forma direta, confirmam a atividade dos grupos paramilitares com a aprovação e a tolerância dos três níveis de governo, a fim de expropriá-los destas terras para destiná-las ao investimento em projetos turísticos".
Aderentes à Sexta Declaração da Selva Lacandona agrupados na Outra Jovel denunciaram que o governo "cria, treina e arma grupos paramilitares para instrumentar conflitos, com faz com a OPDDIC em Bolón Ajaw". Afirmam que "disfarça essas agressões" e "para limpar sua imagem mostra uma cara de negociação, ‘boa vontade e respeito pelos direitos humanos’, que cai diante da brutalidade de suas ações e da forma descarada com a qual busca apropriar-se de terras e territórios autônomos zapatistas. O medo do mau governo tem aumentado tanto que dispõe de seus recursos para criar um clima de terror e violência, visando justificar uma intervenção militar".

Enquanto isso, uma dezena de organizações civis que integram a Rede pela Paz em Chiapas manifestou "profunda preocupação" pelos desalojamentos ocorridos nos dias 21 e 22 de janeiro em comunidades indígenas dos Montes Azuis, e alertaram quanto ao risco de novos desalojamentos "anunciados por várias fontes".

Assinalam que com "o desalojamento forçado de Laguna Suspiro e Laguna San Pedro, várias garantias e direitos fundamentais foram violados, atentando contra a integridade de crianças, mulheres e homens que ocupam a região desde tempos ancestrais".

As operações policial-militares "não têm sido as primeiras nos Montes Azuis" razão pela qual, "devido aos planos governamentais de ‘expropriação territorial’ para a criação de circuitos turísticos, se teme continuem fragmentando a vida comunitária e o tecido social das comunidades ameaçadas de desalojamento".

A Rede pela Paz destaca "a parcialidade" da mídia local por sua "estigmatização, sem investigação prévia e cobertura das várias fontes não-oficiais". Ao divulgar "unicamente" a versão governamental dos acontecimentos, "colocam em risco a integridade das famílias desalojadas, dos defensores de direitos humanos e dos habitantes de outras comunidades". As organizações civis "com trabalho documentado na região" rechaçam "o discurso de ‘conservação e proteção de recursos naturais’ utilizados pelos vários níveis de governo para obter o controle territorial - que se traduz em social, político e econômico – de uma das áreas mais ricas em biodiversidade do Estado de Chiapas"

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