sexta-feira, 24 de julho de 2009

Divertido

quinta-feira, 23 de julho de 2009

quarta-feira, 22 de julho de 2009

33 mil jovens deverão ser assassinados no Brasil entre 2006 e 2012, diz Unicef

Jovem negro tem 2,6 mais risco de ser assassinado do que um branco.
Homicídios representam 45% das causas de morte entre os adolescentes.

Nathalia Passarinho e Rafael Targino Do G1, em Brasília



Mais de 33,5 mil jovens de 12 a 18 anos deverão perder a vida por homicídio entre 2006 e 2012, caso os índices de violência no país não se alterem nos próximos anos. O Índice de Homicídios na Adolescência (IHA), pesquisa realizada em conjunto pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e organização não governamental Observatório de Favelas, foi divulgado nesta terça-feira (21).

De acordo com o levantamento, a média de adolescentes assassinados no Brasil antes de completarem 19 anos é de 2,03 para cada grupo de mil. O número é considerado elevado, já que, segundo os organizadores da pesquisa, uma sociedade não violenta deveria apresentar valores próximos de zero.

O índice revela o risco de mortalidade por assassinato entre jovens brasileiros e estima quantos adolescentes com pelo menos 12 anos serão vítimas de homicídio antes de completarem 19 anos. Para o levantamento, foram coletados dados de 2006 sobre assassinatos de adolescentes em 267 municípios com mais de 100 mil habitantes.

Ranking por região

O levantamento revela disparidade entre as condições de segurança nas diferentes regiões do país. Em 34% dos municípios pesquisados, o IHA foi inferior a um adolescente assassinado para cada grupo de mil, enquanto cerca de 22% das cidades obtiveram valores superiores a três jovens mortos.



Outros 7% dos municípios, no entanto, puxaram o índice para cima, por apresentarem valores superiores a cinco adolescentes assassinados para cada mil.

O município com o pior resultado é Foz do Iguaçu (PR), onde o IHA é de 9,7. A estimativa é de que 443 jovens com menos de 19 anos sejam assassinados nessa cidade entre 2006 e 2012.



Em segundo lugar, está Governador Valadares (MG), com um índice de 8,5 jovens mortos para cada mil. Entre as capitais, Maceió e Recife lideram o ranking de homicídios entre adolescentes, ambas com uma média de 6,0 jovens mortos para cada mil. O Rio de Janeiro aparece com índice de 4,9.

Grupos de risco

A pesquisa revela ainda que a probabilidade de ser vítima de homicídio é quase 12 vezes maior para homens. Mostra também que a população negra é a que mais sofre com a violência. O risco de um jovem negro morrer assassinado é 2,6 vezes maior em relação a um branco.



Atualmente, os homicídios representam 45% das causas de morte entre os adolescentes. Segundo o levantamento, o risco de assassinato é maior para a faixa etária de 19 a 24 anos, e decresce a partir daí.

A maior parte dos homicídios ocorre por arma de fogo, o que, segundo o relatório, reforça a importância do controle de armamento nas políticas de redução da violência.

terça-feira, 21 de julho de 2009

O Militarismo é podre

STF recebe pedido do DEM para suspender cotas para negros na UnB

Lourenço Canuto
Repórter da Agência Brasil




Brasília - O Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu do Democratas (DEM) pedido de suspensão liminar da adoção pela Universidade de Brasília (UnB) de cotas para admissão de vestibulandos negros e pardos. A medida começou a ser praticada em 2000 no estado do Rio de Janeiro por diversas universidades federais e depois se estendeu à Universidade Federal da Bahia, sendo adotada em seguida pela UnB.



Está previsto para os dias 23 e 24 de julho o registro dos estudantes aprovados no segundo vestibular de 2009 da Universidade de Brasília, tendo sido fixadas 20% das vagas para eles. O DEM alegou na medida impetrada no STF que vão ocorrer "danos irreparáveis se a matrícula se basear em cotas raciais, a partir de critérios dissimulados, inconstitucionais e pretensiosos". Para o partido, fica caracterizada "ofensa aos estudantes preteridos" e por isso pede resposta urgente do Supremo.

Os advogados do DEM alegam que estão sendo violados diversos preceitos fundamentais fixados pela Constituição de 1988, como a dignidade da pessoa humana, o preconceito de cor e a discriminação, afetando o próprio combate ao racismo.

Para o ex-assessor de Diversidade e Apoio aos Cotistas e coordenador do Centro de Convivência Negra da UnB, professor Jaques Jesus, o obedecimento de cotas na UnB se insere num "marco na batalha pela inclusão social, como defendia um dos fundadores da UnB, o professor Darcy Ribeiro".

Para Jaques Jesus, que até agosto do ano passado era gestor do sistema de cotas na UnB, o sistema "é justificável diante da constatação de que a universidade brasileira é um espaço de formação de profissionais de maioria esmagadoramente branca, valorizando assim apenas um segmento étnico na construção do pensamento dos problemas nacionais, de maneira tal que limita a oferta de soluções para os problemas do país".

O jurista Valmir Pontes Filho, conselheiro da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), por sua vez, combate a fixação de cotas em universidades, porque entende que isso estimula exatamente a discriminação. O critério deveria ser estabelecer cotas para quem for mais pobre, sem levar em conta a sua cor, defende Pontes.

Ele diz que em determinadas áreas do Nordeste existem lavradores brancos, de olhos azuis, muito pobres, descendentes dos exploradores holandeses que invadiram o Brasil na época da colonização. "Eles em nada são diferentes de pessoas que tenham outra cor de pele. A diferença está na questão econômica e social", argumenta.

O combate à discriminação racial em todos os gêneros, assinala, "começa no coração e na cabeça de cada um, e o Brasil ainda carrega o ranço do preconceito, que só com muito trabalho e convencimento será superado". O jurista reconhece que os negros foram historicamente discriminados na época da escravatura, e o país "precisa ter em mente que eles devem ser tratados como iguais e não por causa da cor da pele"

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Estado Brasileiro: Condenado

CARTA PROTESTO DA TURMA DE DIREITO DOS ASSENTADOS

TURMA DE DIREITO PARA ASSENTADOS E ASSENTADAS DA REFORMA AGRÁRIA E AGRICULTORES FAMILIARES - TURMA

EVANDRO LINS E SILVA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

CAMPUS GOIÁS-GO


NOTA DE PROTESTO


É com profundo sentimento de indignação e revolta, que vimos nos pronunciar. Por motivo da preconceituosa e frustrante decisão da Justiça Federal de Goiás, proferida no dia 15 de junho deste ano, que por meio de ação civil pública proposta pelo Ministério Público Federal de Goiás, movida em face do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA e da Universidade Federal de Goiás – UFG, determinou a extinção da Turma de Direito para Assentados da Reforma Agrária e Agricultores Familiares Tradicionais.

Sob a alegação de desvio de finalidade no emprego dos recursos do PRONERA, e afirmando que tal fato lesa o patrimônio social, e ainda que, não existe previsão legal de tratamento diferenciado aos beneficiários da Reforma Agrária, a aludida decisão pondera de forma extremamente agressiva que, a existência de nossa turma desrespeita os princípios constitucionais da igualdade, isonomia e razoabilidade.



A parceria entre UFG e INCRA, firmada oficialmente no ano de 2007, a qual deu origem a nossa turma, surgiu a partir da luta dos movimentos sociais e diversos parceiros que buscam, historicamente, a efetivação dos direitos fundamentais da classe trabalhadora – do campo e da cidade – em todo o Brasil. Baseados na necessidade, mais que urgente, de se levar educação superior em diversas áreas do conhecimento, aos trabalhadores rurais, por meio de políticas públicas que visam a superação das, históricas e tão presentes, desigualdades sociais de nosso país.
No dia 17 de agosto de 2007, o Exmo. Ministro do STF, Dr. Eros Roberto Grau, proferiu a aula inaugural do nosso curso, composto por 60 alunos advindos do meio rural e, originários de 19 estados da federação brasileira. Ocorrendo nesta solenidade de abertura, em meio a Cidade de Goiás-GO, o estabelecimento de um marco na história do ensino jurídico no Brasil.

Desde o momento em que iniciamos o curso, somos alvo de ataques promovidos por sujeitos contrários à presença de trabalhadores e trabalhadoras rurais na universidade pública. Fazendo tudo isso de forma não menos violenta do que a utilizada para defender a grilagem e a concentração da terra. Tais sujeitos externam sua reação agressiva sempre fazendo uso da grande mídia e de agentes de instituições estatais, como o Ministério Público Federal e o próprio Judiciário.
Atualmente, apesar da sentença extintiva, encerramos o 4º semestre letivo do curso de direito na compreensão de que nada do que está sendo feito contra nossa turma terá sustentação duradoura, vez que, fere ao mesmo tempo, a razão de Estado Democrático Social de Direito.
Mesmo na situação de política pública de educação, o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária – PRONERA, apesar de tantos resultados importantes desde sua criação, vem sofrendo desde 1998, absurdas reduções orçamentárias. Passando a representar um grave retrocesso, naquilo que deveria ser um meio de potencializar tanto o acesso, quanto a qualidade de ensino ao público da Reforma Agrária.

O sucateamento do PRONERA, assim como a supressão da nossa turma, representa sério prejuízo a tudo o que a sociedade, sobretudo a classe trabalhadora do campo, conquistou até hoje. Devendo ser urgentemente observado com mais responsabilidade pelo poder público.

O acesso de trabalhadoras e trabalhadores assentados à educação formal em cursos superiores de graduação em direito coaduna claramente com os objetivos gerais e específicos do PRONERA, visto que, este se propõe a garantir aos assentados (as) escolaridade/formação profissional, técnico profissional de nível médio e curso superior em diversas áreas do conhecimento.

Na presente perspectiva torna-se mais relevante, do que discutir se o ofício de um bacharel em direito é ou não desenvolvido no campo, observar com mais sensibilidade o quanto todo seguimento segregado pela estrutura social vigente, respectivamente, o trabalhador e a trabalhadora rural, necessita de forma concreta do profissional da área jurídica. Seja na demanda fundiária, previdenciária, administrativa, cooperativista ou outras. Pois o assentado e a assentada não se fixam na terra por mera distribuição desta, mas no intuito de que seus direitos e interesses fundamentais sejam alcançados da mesma forma que qualquer outro cidadão objetiva. Nesse contexto a existência da turma não se desvincula da finalidade do PRONERA, menos ainda, da Reforma Agrária que busca alcançar, dentre inúmeras metas, o pleno desenvolvimento do homem do campo, atendendo diretamente ao que sugere o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana.

Ademais, nossa turma de direito se resume em muito mais que uma política de Ação Afirmativa de simples reserva de vagas na universidade. Seguramente representa um simbólico impulso rumo à universalização do acesso ao ensino público superior.

A igualdade, no que diz respeito, ao acesso e permanência na escola (art. 206, I, CF e art. 3º, I da lei n.º 9.394/96), significa uma igualdade moral, de sorte que, partindo da idéia de que a educação é direito de todos e dever do Estado, constitui incumbência moral do Estado reconhecer que as classes marginalizadas social e economicamente, são, de forma jurídica, portadoras dos mesmos direitos que provêem do Poder Público e que definem sua dignidade como pessoa humana. Não devendo, nesse caso, em hipótese alguma, haver razão para confundir a iniciativa da turma de direito como um privilégio ou meio de exclusão, mas basicamente o contrário.

Prova disso, o fato de ter configurado-se há muito mais tempo do que se imagina, a carência de maior atenção do Estado para com os trabalhadores e trabalhadoras rurais. Sendo mais verdadeira ainda tal afirmação, quando verificamos todos os anos, os índices gerais e regionais de escolaridade do povo brasileiro, já que se constata através daí, que sem as políticas públicas de criação de oportunidades de acesso a educação em todos os níveis e áreas do conhecimento, houve nada mais que um agravamento expressivo da situação. E que por isso, também, devemos tratar como medida de imposição e violência institucionalizada todos os atos que, dessa maneira, como está sendo a sentença em debate, visam extinguir as poucas medidas existentes com o papel de realizar a inclusão e a abrangência cada vez maior de outros excluídos que se encontram em situação idêntica ou inferior.
A igualdade de todos perante a lei, reconhece, dentre outras coisas, que as desigualdades existem. Pressupondo claramente, que deverão ser tratados de forma desigual aqueles que encontram-se em situação de desigualdade, como meio de superação dos desníveis sociais. Simplesmente por tudo que revela esse último ponto, já mostra-se absurdamente insustentável, tanto moral quanto juridicamente, toda e qualquer atitude de reação que venha contra o direito de estudar direito dos trabalhadores e trabalhadoras rurais.

Convém citar o interessante questionamento do presidente do INCRA Rolf Hackbart:


"A quem interessa inviabilizar o acesso à educação? A quem interessa fechar salas de aula? Por que em vez de decidir pela extinção desses cursos não se sugere resolver eventuais problemas legais que existam? Há um preconceito raivoso contra movimentos sociais e contra setores da sociedade. As oligarquias do País se perpetuam e uma das formas é não permitir o acesso à educação".

Diante disso, nós como membros da turma em questão, e principais afetados por esse meio de violência – tal qual foi a decisão – nos sentimos com o total dever de repudiar não somente o ato jurisdicional, como também o sucateamento do PRONERA e da própria universidade pública.



Turma Evandro Lins e Silva

ARAGUAIA: CURIÓ ADMITE EXECUÇÃO DE 41 GUERRILHEIROS APRISIONADOS COM VIDA

"Canta, canta passarinho,
canta, canta miudinho
na palma da minha mão"
("Canta Coração", de Geraldo
Azevedo e Carlos Fernando)


Não há nada de realmente inédito na entrevista que Sebastião Curió
Rodrigues de Moura, o major Curió, concedeu a O Estado de S. Paulo neste
domingo, 21 (Curió revela que Exército executou 41 no Araguaia) ou nos
arquivos que ele entregou ao jornal.


A contabilidade macabra agora tem cifras exatas, fornecidas pelo próprio
comandante das operações de cerco e extermínio dos guerrilheiros, em
1973/75: de 67 militantes que as Forças Armadas mataram no Araguaia,
foram 41 os aprisionados com vida e eliminados a sangue frio ("amarrados e
executados, quando não ofereciam risco às tropas", explicita a
reportagem). Acreditava-se que fossem "só" 25.


O jornal constata que a verdade admitida por Curió "contraria a versão
militar de que os mortos estavam de armas na mão na hora em que
tombaram". E acrescenta: "Muitos se entregaram nas casas de moradores da
região ou foram rendidos em situações em que não ocorreram disparos".


A extrema-direita passa a vida derramando lágrimas de crocodilo sobre o
túmulo do tenente Alberto Mendes Júnior, morto para não fornecer
informações que dificultassem ainda mais a fuga de Lamarca e seu punhado
de guerrilheiros, cercados por milhares de militares em Registro, SP.


Embora condenável, inaceitável e injustificável, foi uma decisão
tomada em circunstâncias extremas. Bem diferente de, ao arrepio das
Convenções de Genebra e da honra militar, abaterem-se, de caso pensado e
como cães, 41 seres humanos indefesos -- afora tantos outros exterminados
da mesma forma nas cidades, como as vítimas da Casa da Morte de
Petrópolis (RJ).


Virou-me o estômago ficar sabendo do destino dado aos restos mortais de
Antonio Ribas, que conheci em 1968 como presidente da União Paulista de
Estudantes Secundários. Um rapaz grandalhão, simpático e bonachão, que
conseguia manter a ordem nas assembléias estudantis com sua voz forte —
mesmo tendo a desvantagem de ser o único militante do PCdoB entre dezenas
de adversários. Ninguém o imaginaria no papel de guerrilheiro.


“Morto em 12/1973. Sua cabeça foi levada para Xambioá” - esta curta
citação do arquivo de Curió esclarece o que foi feito de um um homem
idealista a ponto de engajar-se, no pior momento, numa luta desigual e
quase suicida. Nem seu cadáver respeitaram, profanando-o como os
jagunços faziam com os cangaceiros.


Exatidão dos detalhes à parte, já se sabia de tudo isso. E também que
as ordens para que fossem perpetradas as atrocidades provinham dos altos
escalões, como sempre ressaltei ao refutar a lorota de que os subalternos
agiam por conta própria. Eis o que o Estadão informa:


"O arquivo dá indicações sobre a política de extermínio comandada
durante os governos de Emílio Garrastazu Medici e Ernesto Geisel por um
triunvirato de peso. Na ponta das ordens estiveram os generais Orlando
Geisel (ministro do Exército de Medici), Milton Tavares (chefe do Centro
de Inteligência do Exército) e Antonio Bandeira (chefe das operações
no Araguaia). Curió lembra que a ordem dos escalões superiores era tirar
de combate todos os guerrilheiros. “A ordem de cima era que só
sairíamos quando pegássemos o último.”
Fica, mais uma vez, comprovado que não se fará verdadeira justiça
punindo-se apenas os executantes dessas ordens hediondas e poupando-se os
mandantes.

Os Curiós e Ustras da vida não passavam de instrumentos de uma política
sanguinária ordenada por Médici e, no mínimo, consentida por Geisel,
com a cumplicidade de toda a cadeia de comando das Forças Armadas e
propiciada pelo prévio estupro à Constituição cometido pelos
signatários do AI-5. Repugna à minha consciência ver só os lambaris na
berlinda, enquanto os tubarões continuam aclamados a ponto de manterem
colunas na grande imprensa.


É positivo que as revelações e indicações de Curió eventualmente
venham a propiciar a descoberta de mais algumas ossadas e a
identificação de outras.

Mas, tudo isto já poderia ter sido feito no ano passado, se houvesse mais
empenho oficial em dar satisfações às famílias sem mortos para
enterrar e/ou sem informações precisas sobre o destino de seus entes
queridos.


Pois, em sua edição de 27/02/2008, a IstoÉ já alertara o Governo, a
partir do próprio título de sua matéria: Este homem sabe onde estão os
cadáveres do Araguaia.


O homem, claro, era o próprio Curió. Eis o relato da revista:

"...com o cerco dos militares, os guerrilheiros foram empurrados para um
recuo no Castanhal dos Ferreira. De lá, eles se dirigiram para a região
da Palestina. Neste local, no Natal de 1973, iniciou-se a fase final do
combate na qual as forças do governo mataram mais de 20 guerrilheiros
antes do Réveillon. “O pessoal dos direitos humanos fica procurando
corpos em Xambioá (base militar), mas muitos corpos estão enterrados na
Palestina, que na época era uma vila com uma rua de terra”, revela.
Contra essa declaração, existe o fato de que sua comprovação custaria
caro. Daquela vila, a 286 quilômetros de Belém, nasceu uma cidade que
hoje conta com 7.500 habitantes. E para revirar o solo seria preciso
demolir casas e esburacar ruas."
Curió também deu, então, esta declaração sintomática à IstoÉ: "Eu
não tenho o direito de levar para a sepultura os dados que tenho e que eu
sei”.

Ou seja, estava ansioso para contar tudo que sabia. Bastaria que lhe
perguntassem.


Mas, como a repercussão do que sai na IstoÉ não é nem de longe
comparável à do Estadão dominical, as autoridades preferiram fazer
ouvidos de mercador, evitando mexer nesse vespeiro.


Afinal, além das despesas com demolições e escavações, há o fato de
que cada ossada trazida à luz (do dia e dos flashes...) representará uma
acusação gritante à bestialidade da ditadura militar. Muitos ainda
preferem o silêncio.







Jornalista, escritor e ex-preso político,
Celso Lungaretti mantém os blogues
http://naufrago-da-utopia.blogspot.com/

http://celsolungaretti-orebate.blogspot.com

domingo, 19 de julho de 2009

Filme que elogia a Rota vira hit em bancas de camelôs

Trama mostra cenas de assassinato, estupro, tráfico de drogas e pancadaria

Inspirado em "Tropa de Elite" e baseado em livro do deputado Conte Lopes, produção foi bancada e dirigida por empresário

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nós somos a verdadeira tropa de elite", grita um soldado com a boina preta e o braçal da Rota, no filme que, lançado há uma semana, já é responsável pela maior fatia de faturamento das barracas de DVDs piratas do centro de São Paulo (ganha, inclusive do infantil "Era do Gelo 3" -e é época de férias). "Rota Comando" elogia as Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar, que se orgulha de ser "o terror dos bandidos". Movido a hectolitros de sangue, drogas, sequestro, assassinatos, estupro e pancadaria generalizada, o filme foi dirigido, escrito, produzido e financiado pelo microempresário Elias Junior, 43, que ainda defendeu um pequeno papel na história.

A inspiração veio de "Tropa de Elite", do diretor José Padilha, que foi patrocinado pela Petrobras, BNDES, Claro e CSN, entre outros. O blockbuster de 2007, orçamento de R$ 10,5 milhões, bombou primeiro nas barracas dos piratas. Quando estreou em 171 salas, ainda conseguiu vender 2,4 milhões de ingressos. Tornou-se a 11ª maior bilheteria desde a retomada do cinema nacional, a partir de 1995. O precedente era bom demais. Elias Junior, contudo, não contou com um detalhe. "A Rota é vítima de um preconceito enorme", diz. "São denúncias e mais denúncias infundadas de que a Rota mata inocentes. Eu nunca vi nada disso acontecer."

O diretor afirma que, desde 1994, acompanha as ações da tropa, gravando em vídeo as ocorrências. "Pretendia fazer um documentário", explica. Em 2007, "Tropa de Elite" estava no ápice do sucesso e Elias Junior resolveu enveredar para um longa "baseado em fatos reais", como define. Ele acabara de receber autorização da Secretaria da Segurança Pública para fazer tomadas dentro do próprio quartel da Rota, no prédio amarelo de 1892 projetado pelo arquiteto Ramos de Azevedo e fincado na avenida Tiradentes. O filme começava a ganhar vida. Mas, depois de percorrer nada menos do que 86 patrocinadores, incluindo todos os que deram dinheiro para "Tropa de Elite", o resultado foi "zero, nada, nenhum centavo". "O Pão de Açúcar me disse que não poderia. Que seu slogan é "lugar de gente feliz", e não "de gente morta". Até entendi", afirmou o diretor, que diz ter bancado a produção com R$ 500 mil do próprio bolso.

"Rota Comando" gastou 30 litros de sangue cenográfico durante as gravações -o volume equivale a todo o sangue contido nos corpos de cinco homens adultos. No filme, todas as vezes, os tiros saem primeiro das armas em mãos dos bandidos. Só depois a Rota atira. Diretor e filme defendem o método do "esculacho" (gíria que quer dizer desmoralizar, humilhar ou expor a vexação e vergonha) contra presos. Em uma cena, o bandido leva saraivada de tapas na cara. Em outra, o policial ameaça atirar em um suspeito, a fim de obrigá-lo a entregar seus comparsas. "Bandido é malandro mesmo. É legítimo o uso da "força necessária" para fazê-lo colaborar", advoga Elias Junior, cujo sonho de garoto era ser da Rota. Vale saco plástico para sufocar, como se vê em "Tropa de Elite"? "Vale chute, tapão na cara, humilhação, "a força necessária" para fazê-lo colaborar", respondeu o diretor.

A principal fonte de inspiração do filme sobre a Rota vem do livro "Matar ou Morrer", do ex-oficial Conte Lopes, hoje deputado estadual (PTB-SP), suposto autor do lema "Bandido não cria nome em São Paulo". "Matar..." foi publicado em 1994 e pretendia ser uma resposta ao livro do jornalista Caco Barcellos, "Rota 66 - A História da Polícia que Mata", de 1992, que retrata a tropa de elite paulista como um sistemático grupo de extermínio. Atirador filiado à Federação Brasileira de Tiro Prático, Elias Junior é admirador de Conte Lopes. "Até tentei falar com o Caco Barcellos para o filme. Mas era só de curiosidade. Já sabia que a base da minha obra seria o Conte Lopes."
O apoio da Secretaria da Segurança Pública ao filme materializou-se, segundo o diretor, na forma de reforço policial durante as gravações realizadas em áreas de favelas; e na permissão para tomadas feitas dentro do quartel da Rota.

A Folha perguntou à secretaria o que acha da prática do "esculacho" contra prisioneiros. "Não vamos falar sobre o assunto", foi a resposta.

Como se constituem injustiças e matanças no RJ

O Serviço Reservado (P-2) do Batalhão de Operações Especiais (Bope) estava atrás do suspeito errado. Segundo informações passadas pela 18ª DP (Praça da Bandeira), Alexandre Luiz Azevedo não tem apelido de Cemitério, é conhecido como Torrado e está preso na Casa de Custódia Jorge Santana, em Bangu.

A foto de Alexandre estava nas mãos de todos os policiais do batalhão, que desde a semana passada participam de diversas operações para prender o assassino do cabo Ênio Santiago, que foi morto semana passada. Mas Alexandre foi preso em janeiro, logo após roubar uma moto no Rio Comprido.

— É uma pessoa que tem o mesmo apelido. Em um primeiro momento nós tínhamos levantado todos com esse apelido. Mas o nosso alvo é outra pessoa — explicou o coronel Paulo Henrique Moraes, comandante do Bope.

No começo da noite de ontem, o batalhão recebeu uma informação que será confirmada nesta sexta-feira. Traficantes do Morro dos Prazeres teriam matado o assassino do cabo Ênio Roberto. Os policiais programaram uma incursão hoje.

sábado, 4 de julho de 2009

Os políticos e a imprensa

Sonia Montenegro em 3/7/2009

Em 25 de abril de 1984, a emenda que viabilizaria a eleição direta foi derrubada, apesar do grande movimento popular que clamava a volta da democracia e o direito ao voto.

Neste tempo, o político mineiro Tancredo Neves, apesar de comparecer aos comícios das Diretas Já, torcia para que a emenda não fosse aprovada, para que ele pudesse se candidatar pelo PMDB, e ser eventualmente eleito presidente pelo Colégio Eleitoral. Tancredo sabia que sua única chance seria a eleição indireta.

Em 23 de julho, PMDB e PFL assinam aliança Tancredo-Sarney, como candidatos do Colégio Eleitoral para a escolha do novo Presidente e vice da chamada “nova” República.

Tancredo conseguiu a aprovação da imprensa, já havia se entendido com o Roberto Marinho das Organizações Globo, e construiu uma grande aliança que garantiu sua vitória no Colégio Eleitoral, porém, na véspera de sua posse, foi internado, sofreu 7 cirurgias, vindo a falecer

Sua morte só foi anunciada à nação no dia 21 de abril, para coincidir com a morte de Tiradentes, seu conterrâneo e mártir da independência. Tancredo era então o mártir da República. Enquanto ele agonizava, a imprensa o beatificava, com matérias e reportagens que geraram uma comoção popular, como de costume, aliás.

Em 15 de março de 1985 Sarney assume provisoriamente a presidência, e em 22 de abril, definitivamente. Nesta altura, já tinha tido vários mandatos como deputado, governador biônico (eleito indiretamente) do Maranhão, senador e presidente do PDS. Sua vida pública já era conhecida de todos, mas teve apoio no Congresso e conseguiu inclusive aumentar em mais 1 ano o seu mandato. Depois de deixar a presidência, elegeu-se senador pelo Amapá e compunha a base de apoio do governo de FHC.

Em 2002, sua filha, Roseana Sarney se candidata à presidência pelo PFL e começa a ameaçar a ida do tucano José Serra para disputar o 2º turno da eleição com Lula. Isso deixou os tucanos de orelha em pé, com a certeza de que alguma coisa teria que ser feita para impedir a vergonha do candidato de FHC não chegar nem ao 2º turno.

No dia 1º de março de 2002, a PF invade o escritório da Lunus (MA), empresa do marido da então candidata à presidência Roseana Sarney, e encontra R$ 1,3 milhão no cofre. A imprensa divulga imediatamente a pilha de dinheiro e derruba a candidatura da Roseana.

Em 20 de março, o senador José Sarney, pai de Roseana, faz discurso no plenário e acusa textualmente o candidato José Serra como o responsável pela ação da PF. Todos os envolvidos nela eram “gente do Serra”. Não se tem notícia de que tenha sido processado por seu discurso, nem que tenha sido ameaçado por “quebra de decoro”, pelas graves acusações que fez.

“Acusam a governadora pela aprovação da Usimar e esquecem o ex-ministro José Serra, que responde ao processo 96.00.01079-0 por ‘improbidade administrativa - ressarcimento ao erário’, a outra ação, 2000.34.00.033429-7, com a finalidade de ‘reparação de danos ao erário’, e ainda a várias outras ações ordinárias, cautelares, civis públicas, populares”.

O texto acima serve apenas para mostrar a hipocrisia dos políticos e da imprensa:

1- Tancredo fingia que apoiava o movimento pelas Diretas, mas torcia para que não fosse aprovada. Obviamente, a imprensa tinha conhecimento de tudo, mas como não interessava, não divulgava. (Há pouco tempo o jornalista Maurício Dias escreveu a esse respeito em Carta Capital)

2- Sarney, quando era da base de apoio do governo FHC era um político ilustre. Foi presidente do Senado no 1º ano do mandato de FHC (entre 1995 e 1997), seguido de ACM, Jader Barbalho...

3- As abundantes irregularidades do Senado agora denunciadas, já acontecem há pelo menos 15 anos, segundo se diz, mas só agora existe um real interesse em denunciá-las. Aliás, mais uma vantagem de ter Lula no poder: pela 1ª vez, os políticos que mandaram e desmandaram por todo tempo neste país querem apurar as irregularidades, embora retrocedam quando estas retroagem a 2002. FHC espertamente disse que o que aconteceu no seu governo já faz parte da história.

4- Renan Calheiros renunciou à presidência do Senado porque tem uma filha fora do casamento (reconhecida por ele) que foi sustentada por um empresário, mas FHC tem um filho também fora do casamento (não reconhecido por ele), que é sustentado pela Rede Globo (sua mãe é jornalista global, e foi transferida para a Espanha, para não causar transtornos ao pai), mas disso a imprensa não fala, exceto a revista Caros Amigos, que divulgou o fato, e não foi acionada nem contestada. Agora Renan é corrupto, mas ele foi Ministro da Justiça de FHC.

5- Sempre que são feitas denúncias de corrupção, a imprensa elege os “arautos da moralidade” para fazer seus comentários indignados. Os cidadãos desavisados tendem a acreditar que essas figuras são corretas, o que não corresponde à realidade. É pura hipocrisia!

6- Se a imprensa tivesse compromisso com a verdade, escolheria aqueles com ficha limpa, tendo portanto uma enorme responsabilidade pela péssima qualidade do nosso legislativo.

7- A imprensa apoiou o golpe de 64, a ditadura, o Collor, o FHC, e continuará apoiando o que de pior existe na política brasileira, para preservar seus interesses e de seus anunciantes. Essa é a sua lei maior!!!

8- José Agripino Maia é primo de Agaciel Maia, que em 19 de junho último casou sua filha, e contou com a família de Agripino pra prestigiar a festa! Fez-se na política nos tempos da ditadura, quando a corrupção não era noticiada pela imprensa, mas ainda assim, basta procurar para encontrar uma série de denúncias e irregularidades em sua vida pública, como dinheiro “por fora” para campanhas eleitorais. É dono também de alguns veículos de comunicação.

9- Heráclito Fortes também é político dos tempos da ditadura, e faz parte da “tropa-de-choque” do banqueiro condenado Daniel Dantas. Tinha em seu gabinete, desde 2003, como funcionária fantasma morando em São Paulo, Luciana Cardoso, filha de FHC. Recentemente defendeu o pagamento de R$ 6,2 milhões em horas extras para 3.883 funcionários durante o mês de janeiro, em pleno recesso, quando não houve trabalho parlamentar no Congresso.

10- Arthur Virgílio é o rei da cara-de-pau. Bradava contra o caixa 2 do PT, que chamam de “mensalão” apenas para dar uma impressão de maior gravidade, mas em entrevista ao Jornal do Brasil em 19/11/2000, reconhece que “foi obrigado” a fazer caixa 2 na campanha para o governo do Amazonas, e que podia reconhecer o fato publicamente porque o crime já prescrevera. Quando foi prefeito de Manaus, teve nada menos que 46 operações e obras classificadas de irregulares, por uma auditoria no Tribunal de Contas do Município (TCM) JB 18/3/92. Recentemente, divulgou-se que seu assessor pediu a Agaciel US$10 mil, garantindo que um rateio entre “amigos” quitou o empréstimo. Agaciel nega ter recebido. Por atos secretos do Senado, contratou seu professor de jiu-jitsu, 3 filhos de seu subchefe de gabinete Carlos Homero Nina Vieira, um deles morando na Espanha, e ainda a mulher e a irmã de Nina Vieira, sem contar os gastos R$ 723 mil com despesas médicas de sua falecida mãe, em 2006.

Esses são os políticos que a imprensa escolhe para dar depoimentos condenando a corrupção. Seria cômico se não fosse trágico!

Claro está que a intenção da imprensa e da oposição não é absolutamente a de moralizar o Senado, mas toda essa repentina perseguição ao Sarney tem alguns objetivos importantes para a oposição: paralisa o Senado, em tempos de crise mundial, prejudicando o governo e principalmente o país, e intimida os parlamentares da base de apoio deste governo. É como se estivessem dizendo a todos os parlamentares: cuidado, apoiar o governo Lula é muito perigoso!!!