quinta-feira, 9 de abril de 2009

Denûncia - VIOLÊNCIA CONTRA ADOLESCENTE EM DIADEMA

Breve relato sobre a violência da GCM (Guarda Civil Metropolitana) contra adolescente e equipe técnica em Projeto de medida socioeducativa.


O abuso de autoridade e a truculência policial contra adolescentes se deram novamente no Município de Diadema, desta vez na presença de profissionais do Projeto de Medida Socioeducativa da região.

Em 19/02, por volta das 15h50, vinte guardas da GCM (Guarda Civil Municipal) entraram no local de atendimento das medidas socioeducativas portando armas nas mãos e falas agressivas. O alvo era o adolescente, de 16 anos, W. que estava no projeto junto de sua mãe para solicitar orientações sobre como proceder no caso de violência policial.

A mãe de W. encontrava-se inconformada com as marcas no corpo de seu filho que havia acabado de ser agredido no local ao lado do Projeto. Segundo ela, toda a história teve início quando o adolescente, após ter tido seu atendimento, foi jogar futebol com os colegas na quadra do parque Municipal, e neste local foi abordado por uma GCM que o revistou, pegou sua carteirinha de atendimentos da medida socioeducativa e o agrediu. W. foi até sua residência e informou a mãe sobre o fato, a qual imediatamente compareceu ao local para pedir de volta a carteirinha dos atendimentos. Testemunhas dizem ter ouvido os xingamentos feitos pela guarda da GCM contra W. e sua mãe, chamando-a de ?verme?, ?vagabunda?, ?bandida? e etc. Foi então que, angustiada, procurou a equipe técnica do Projeto para saber como proceder diante tamanha humilhação e injustiça que ela e seu filho haviam sofrido.

Enquanto dávamos as orientações, o grupo da GCM entrou sem qualquer mandato judicial e arrastou o adolescente para fora da sala da equipe técnica, momento em que a mãe dele junto a mim seguramos-o para impedir que os Guardas o violentassem ainda mais e o apreendessem. Mesmo os policiais vendo que poderiam nos machucar agiram agressivamente, o que levou ao ferimento de meu braço devido ao impacto da força com que arrastavam o adolescente com a parede lateral da sala.

Solicitamos a menção sobre o motivo da apreensão, e em menos de dez minutos foram contadas quatro versões diferenciadas. A primeira foi devido a ?tráfico de entorpecentes?, a segunda por ?latrocínio e porte de arma?, a terceira por ?agressão a GCM? e quarta por ?tentativa de agressão a GCM?. De criações em criações, W. foi agredido na frente de todos e humilhado com palavras vexatórias e preconceituosas. Apesar da incoerência de provas e da ausência de motivos para a busca do adolescente, além da pressão e aglomeração próximo ao mesmo, os funcionários da GCM diziam certeiramente à equipe : ? Ele já confessou, ele já confessou?, mas não sabiam nem sobre o que a inexistente ?confissão? seria.

A GCM violentou ainda verbalmente a equipe técnica do Projeto, tratando a todos mal e expressando tons de ameaça. Um dos policiais tentou cobrir a identificação, porém ao perceber tal prática foi perguntado o nome. A resposta , além do nome, foi de ameaça ?Por quê? Vai fazer B.O. contra mim? Vai?? Outro, de maneira provocativa disse ?Você tem que cuidar dos seus ladraozinhos?.

De acordo com o art. 230 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a pena é de 6 meses à 2 anos ao ? privar criança ou adolescente de sua liberdade procedendo a sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente?. Pelo mesmo documento, ?Submeter criança e adolescente sob sua autoridade, guarda, vigilância a vexame ou constrangimento? ocasiona no mesmo tempo de pena. Destaca-se ainda que, em Parágrafo único, ?Se há emprego de violência, grave ameaça, fraude?, a pena de reclusão é de 4 a 6 anos.

Além da violação destes direitos, tantos outros foram ignorados, como invasão de propriedade, abuso de autoridade, agressão e ameaça à vida, este último devido ao direcionamento das armas contra os funcionários para que o portão fosse aberto.

Muitos são os adolescentes violentados pelo abuso de poder de policiais, chegando a graves conseqüências. O alvo costuma ser o mesmo: jovens da periferia. A higienização de classe e racial intensifica-se cada vez mais através de fatos como o vivenciado, pertencentes a uma política elitista e racista. Se tamanha prática violenta foi feita na presença de profissionais de um Projeto fica a prova de que as ações por detrás de muros e terrenos baldios são de extrema tortura.

Convido a todas e a todos a denunciarem qualquer abuso policial e a nos organizarmos para expor os fatos à sociedade, somando forças entre nós e sentenciar de vez as organizações de ?Segurança? pública como culpadas!

Camila Melo Assistente Social e Técnica de Medida Socioeducativa de Liberdade Assistida.

Um comentário:

ventodeliberdade disse...

Oi débora, notei que tu também trata do tema da violência estatal, fiquei feliz de encontrar este eco. Ainda não sei como adicionar os contatos dos blogs amigos no meu blog, mas assim que fizer isso, vou colocar o teu. Pode me escrever para rafaelescurus@hotmail.com, é meu email pessoal.
falou,
abraço