quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Polícia Federal é a nova "corregedoria das polícias" no Rio

Não é de hoje que eu digo e muita gente boa concorda que a corrupção policial é um dos principais fatores do aumento da criminalidade em qualquer lugar do mundo, mas sobretudo no Rio de Janeiro. Pois uma investigação de dois anos da Polícia Federal do Rio - que resultou na prisão de 17 policiais civis e militares acusados de participar de uma quadrilha de assaltantes - veio confirmar essa tese. A base de atuação da quadrilha chefiada pelos policiais era o bucólico município de Nova Friburgo, cidade com 180 mil habitantes, na Região Serrana do Rio, a 140 quilômetros da capital fluminense. Entre os 47 presos, um deles era um policial civil que chefiava justamente a seção de Roubos e Furtos da 151a DP (Friburgo). É o típico caso da raposa tomando conta do galinheiro e também de concorrência desleal. Em vez de combater o crime, os policiais-bandidos disputavam o "mercado" de roubo de cargas e assalto a bancos com outros criminosos.

A investigação da PF revelou que os 12 policiais do 11o Batalhão da PM, de Friburgo, e os cinco policiais eram peça-chave da quadrilha que praticava roubos de carga, assaltos a banco, extorsões, lavagem de dinheiro e homicídios. Em carros da polícia, eles também escoltavam seus cúmplices nos ataques aos caminhos na BR-101. Em vez de proteger o cidadão, eles protegiam justamente os criminosos. Como dizia Chico Buarque, chama o ladrão.

O azar desses criminosos (e sorte nossa) é que foram se meter em instituições financeiras federais, onde os crimes são investigados pela Polícia Federal, que tem se notabilizado por altos índices de eficiência no combate ao crime e, no Rio, atuado como a melhor corregedoria das polícias civil e militar que a sociedade pode esperar. Foi assim nas operações que resultaram na prisão de policiais civis envolvidos com a máfia de caça-níqueis. Nesse aspecto, ajuda muito o fato de o secretário de Segurança do estado ser um delegado da Polícia Federal com excelente trânsito em sua corporação.

O ex-chefe da seção de Roubos e Furtos é irmão do chefe da delegacia, que foi afastado ontem do cargo "para preservá-lo e manter a isenção das investigações federais", conforme divulgou a Polícia Civil. Segundo a Polícia Federal nada ficou comprovado contra o delegado, apesar de a quadrilha atuar há muito tempo e movimentar pelo menos R$ 800 mil por semana. Como bem disse a chamada de capa do GLOBO de ontem, o chefe da Roubos e Furtos fazia tudo o que não se esperava dele: roubava e furtava. O que afanou de mais grave, porém, foi o fiapo de credibilidade da polícia. Um caso desses provoca, por exemplo, um desânimo imenso em quem se esforça para acreditar na polícia. E uma simples pesquisa comprovaria que, após eventos como esse, cai o número de queixas na delegacia local.

Tão grave quanto a queda na confiança na polícia é realmente o aumento da criminalidade. Enquanto os policiais-bandidos se ocupavam de enriquecer ilicitamente, cresciam absurdamente os índices de criminalidade em Friburgo. Houve aumento de 183% nos registros de assaltos ao comércio, entre abril, maio e junho deste ano, em relação ao mesmo período do ano passado. Explodiram também os assaltos a transeunte - um tipo de crime que também só cresce no Rio. Sem dúvida que isso também tem a ver com a presença do tráfico de drogas no interior do estado. Mas, não duvide, a ocasião faz o ladrão.

Nenhum comentário: