terça-feira, 11 de maio de 2010

Desalojo do Camelódromo da Central do Brasil


Após incêndio de caráter duvidoso, poder público promove o desalojo de lojas que não foram afetadas pelo fogo.


Na manha desta segunda feira, 10 de maio, não foi somente o céu da cidade que amanheceu carregado de nuvens. Eram muitas as dúvidas que pairavam sobre a cabeça dos mais de 600 lojista do camelódromo da Central do Brasil, que naquele dia, viram suas expectativas de permanência no local serem frustradas com o vencimento do prazo de despejo, realizado pela CODERTE.

O incêndio do dia 26 de abril, que destruiu parte do camelódromo, serviu como pretexto para desalojar todo o complexo de boxes, que contava com uma grande diversidade de mercadorias a preços populares, eram roupas, guloseimas, artigos para o lar, ferramentas para construção civil, que estavam acessíveis as 24h do dia, tanto para as pessoas que moram próximas ao local, quanto para a enorme quantidade de pessoas que moram nos subúrbios e na baixada fluminense e são obrigadas a passar pelo local todo dia, quando chegam ao Centro da cidade e quando vão a noite para suas casas distantes, recuperar forças para a jornada do dia seguinte.

Quando chegamos ao local, aproximadamente as 6 horas da manha, o mesmo já se encontrava isolado pela Polícia Militar e era grande a quantidade de homens e carros do Batalhão de Choque, com suas enormes metralhadoras. Havia também pessoas que pediam aos funcionários públicos engravatados, que não pudemos levantar a qual orgão público pertence, para poderem tirar o que ainda restava de mercadoria. Nos chamou a atenção a grande insensibilidade dos funcionários do CODERTE , que negavam isto aos trabalhadores, alegando que o prazo havia vencido as sete horas da manha. Entre lágrimas e súplicas as pessoas insistiam e se mostravam indignadas e ao mesmo tempo impotentes em meio a homens engravatados e soldados fortemente armados.

Era visível que o sentimento que mais pairava no local, depois da revolta era o medo de represália de algumas das ?autoridades? ali presentes, a presença da policia de choque durante a semana deve ter servido para causar esta sensação. Pudemos presenciar naquela manha a chacota e o sarcasmo com o qual a PM lidava com a situação desesperadora dos trabalhadores despropriado de seus meios de produção. A teria majoritária ali, tanto dos camelôs quanto dos transeuntes era a de um incêndio criminoso. Fatos como a demora do corpo de bombeiros, que tem o seu quartel localizado a menos de 500 metros do local, mas que no dia do incêndio tardou 2 horas e ainda quando chegou, não havia água para apagar o incêndio; e também do projeto para a construção de uma nova rodoviária que foi apresentado a imprensa e a opinião pública um dia depois do incêndio, contribuíram muito para este pensamento.

Algumas horas antes, logo que se deu a nossa chegada, do outro lado do camelódromo, na parte mais próxima a estação de trem da Central do Brasil, a indignação era a mesma, as pessoas que ainda estavam no prazo para retirar suas mercadorias o faziam, mas com as nuvens carregadas de dúvidas a respeito do futuro econômico da família, da instabilidade de uma educação para os filhos, preocupação com os alugueis, comida, transporte, ou seja, com tudo que a especulação urbana encarece para a população pobre e no caso deles, ainda tomou de assalto seu meio de sustento, viram literalmente suas vidas transformadas em cinzas e escombros e a expectativa de futuro que parece dominar a maioria é seguir na profissão, correndo da guarda municipal e do choque de ordem.

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